São Paulo, 24 de Fevereiro de
2014
Depoimento de quem esteve
conosco no Hospital São Paulo - Natal 2013
Sempre sonhei em ser médica, queria ser obstetra, para
dar ajudar mamães no momento tão singular. Infelizmente
não tive recursos.
Há uns 13 anos aluguei alguns filmes, dentre eles o
filme Patch Adams – O Amor é Contagioso, confesso que
naquele momento eu queria sair de casa e ir para algum
hospital fazer aquele trabalho que havia me tocado
muito.
Ao pesquisar descobri que existia o Doutores da Alegria
e que não é um trabalho voluntário, fiquei bastante
frustrada, por que além de não ser voluntariado, os
palhaços são profissionais, tem experiência na área e
também extremamente qualificados, formados em artes
cênicas pela USP, Unicamp, entre outras.
Descobri também que não era tão fácil acessar o hospital
para fazer este tipo de voluntariado.
Eu cheguei a chorar por ter levado um “não” dessa forma,
sim, eu não tinha os requisitos. E quer saber? A
essência desse trabalho está em voluntariar!
Resolvi então buscar alternativas, e encontrei um grupo
da Pfizer, Saúde Total, que faz um trabalho de visita a
asilos, uma vez por mês. Então montamos uma peça de
teatro e visitávamos fazendo a peça sobre cangaceiros,
era incrível. Infelizmente ao me mudar de Guarulhos,
como não tinha carro, ficou inviável a minha
participação.
Depois de um tempo me apresentaram a Associação
Beneficente Grupo Sol, e comecei a participar nas
visitas com o Grupo, que faz visitas a vários tipos de
instituições. Sempre brincando muito, correndo, rolando
no chão, mas ainda faltava algo.
Um dia, voltando de uma visita do Grupo Sol, vi um post
de uma amiga: NO HOSPITAL, DE NARIZ DE PALHAÇO, MEU
DEUS!!!! Imediatamente chamei ela no chat e perguntei.
Ela me contou sobre como funcionava, que era sua
primeira vez e que a visitas ao hospital eram feitas a
cada três meses com um grupo chamado Amigo Beija Flor.
Entrei no site, me inscrevi, enviei e-mail , olhei
todas as fotos, era aguardar. E faltavam três meses para
eu possivelmente realizar um sonho.
A felicidade tomava conta de mim, mesmo sem ter a
certeza que iria conseguir. Estava chegando a hora de
realizar o sonho.
Olhando no site, vi uma visita a um abrigo em
Interlagos, realizada pelo grupo Amigo Beija Flor, lá
conheci a Sandra, que conheceu a mim e ao Ricardo, que
nos levou ao Rodrigo, João, Anderson e Priscila...
nascia o grupo de irmãos-palhaços mais incríveis que
poderia existir: o Grupo Alegria e Esperança.
E veio a confirmação.
E o melhor, além de conseguir minha vaga, eu tinha
comigo a Ewe, uma amiga maravilhosa, que inscrevi
comigo.
E foi assim...
São Paulo, 24 de Dezembro, 2013. Estava tudo preparado e
eu estava emocionada.
Chegamos cedo ao Hospital São Paulo, e ansiosas já fomos
trocadas, ficamos observando todos se preparar....
recebi meu avental de Doutora Amigo Beija Flor... a
emoção tomou conta do coração.
Fizemos uma linda oração, recebemos algumas orientações
e agradecimentos e seguimos descendo as escadas do
hospital, coração batendo forte, olhos cheios de
lágrimas. A expectativa era grande.
O script era, pedir licença para entrar (nenhuma recusa)
e: “Doctor Slamber veio fazer cirurgia! Onde quer
operar?”
A tradutora fazia a graça, claro, Doctor Slamber veio da
Zambonia, com exceção da frase “vai curinthia”, ele nada
sabia falar em português.
Ao escolher o lugar a ser operado (chulé do pé,
sobrancelhas, e até mesmo sumir com cabelos brancos),
abríamos o paciente com o martelo do Doctor Slamber e
então Doutora Pinico retirava todas as impurezas e tudo
mais que o paciente quisesse: tristeza, dor, doença,
raiva... Há ! e lá vai DESCARGA!!! (ou janela hahahaha)
Com o “corte” aberto vinha Doutora Amoreco com seu
coração aberto, e então podíamos colocar todas as coisas
belas no lugar das ruins: perdão, amor, alegria, cura,
Deus, oração, paz....
“Sim a cirurgia foi um SUCESSO” e então APLAUSOS!
Entregamos uma florzinha de plástico (ela nunca vai
morrer) e uma mensagem linda! Para que ao olhar a
florzinha nunca fosse esquecido o sucesso da cirurgia
realizada.
Em minha memória algumas das recordações inesquecíveis,
algumas das emoções que gostaria de compartilhar:
Uma mocinha de cabelos pretos, cacheados e longos, pulou
em meus braços (e nossa! Havia uma orientação para que
não tocasse em nada), aquele abraço foi forte, e ela
gostou da maquiagem da Keka Pankeka, LINDA, sorria!
Sophia.... ela tinha tubos na boca e no nariz, não podia
sequer se virar na cama, nos observava com alegria,
curiosa, e ao ouvir elogios dizendo como é bela e
perfumada, ainda conseguia sorrir! Seu sorriso era a
forma de agradecimento mais significante que pude
sentir.
Miguel estava na UTI neonatal, em um quarto isolado,
entra numa porta , espera fechar, abre a outra.... o
ursinho de pelúcia de Miguel estava esterilizado, em um
saco plástico. Mas não havia tristeza em seu olhar.
Ninguém diria que ele estava dodói.
Uma bebezinha recém nascida, que assim que entramos no
quarto sua mamãe chorou, “vai tudo ficar bem, se Deus
quiser” .
Cada sorriso tinha um valor, era como uma conta bancária
de sorrisos valiosos.
Dona Josefa, com seus cabelos negros cheinhos de fios
brancos nos disse no decorrer da cirugria “ah estou tão
leve que é melhor fechar as janelas, senão vou sair
flutuando”.
Um rapaz que sofreu acidente de moto “atropelou um
trator”, possuía uma cicatriz gigante, do pescoço até a
barriga na altura da cintura. Nos agradeceu “que Deus
abençoe suas vidas, que saíram de casa em pleno dia de
Natal, nem nos conhecem e vieram trazer alegria” me
emocionei um tanto... o que ele nem imaginava era o
quanto de alegria estávamos recebendo.
Visitamos a UTI neonatal, havia bebezinhos pré-maturos,
havia um com dedinhos dos pés juntinhos, ainda em
formação, orei... mandei amor através do coração. Muita
energia positiva.
Um dos momentos eu posso dizer que quase desmoronei,
quando me deparei com a ala de Oncologia, minha mãezinha
morreu eu tinha 11 anos, ela 33, de câncer de mama. Deus
sabe o que faz e uma trupe de doutores amigos Beija Flor
já havia operado.
Entregávamos as florzinhas a todos pelo caminho,
enfermeiras, médicos, faxineiros, pediram para tirar
foto conosco.
Ah! Fazia parte da regra não tirar fotos, um dos nossos
paciente pediu, colocou o penico na cabeça e segurou o
martelo do doctor Slamber e disse “agora podem tirar
foto”. Ele nos contou uma história em que o mundo logo
falará a mesma língua, a que será para falar de amor, e
do bem. Ele disse que cada vez mais pessoas no mundo se
preocupam em fazer o bem. Ele disse que somos evoluídos
por estar ali voluntariando.
Um dos pacientes, prestes a voltar para casa orou
brevemente conosco, ele disse que em primeiro lugar vem
a família, depois Deus. Ele estava com sua esposa e
estavam ansiosos para ir para casa.
Sr. Luiz estava sozinho, a enfermeira nos chamou. Era 24
de Dezembro e ninguém da família havia aparecido para
dizer a ele Feliz Natal. Sr Luiz sabia falar inglês,
espanhol e português. Na cirurgia do Sr. Luiz tirou
vício, raiva, doença e toda maldade que ele havia feito
na vida para as pessoas. Ele disse coisas fortes que nos
fizeram refletir.
Ao final colocamos muitos sentimentos bons nele.
Deixamos alegria, amor e esperança.
Momentos únicos, sem dúvidas que foi um grande sonho
realizado.
Toda a ação de amor nos retorna infinitamente maior. É
um dom que Deus nos dá.
Aquela vontade que eu senti quando assisti Patch Adams
continua dentro de mim, cada dia mais forte.
A cada doação de amor sinto que ainda é pouco. Cada vez
mais quero colocar meu nariz vermelho e arrancar
sorrisos através da minha personagem Keka Pankeka.
Termino meu depoimento pedindo à Deus que abençoe cada
voluntário do mundo, que sirvam de inspiração por onde
passarem e que levem muito amor e alegria!
Angélica Jacomini – Recordações da Keka Pankeka
Hospital São Paulo como Doutora Amigo Beija Flor em
24/12/2013
Venha conosco conhecer e participar do nosso grupo.
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