Saiba mais!!!
São Paulo,
20 de
junho de 2009.
Estávamos em 25 voluntários e, como sempre, foi uma
linda festa com muita comida, refrigerante, música,
dança, beijos, abraços, risos, carinho e amor.
Mas
hoje quero escrever um pouco sobre os bastidores, o
antes, o que acontece para que essa festa seja um
sucesso e todos saiam do orfanato com a sensação de
missão cumprida "Eu fiz, faço e sempre farei a minha
parte".
Apesar
da visita ser uma vez por mês, recebo e-mails
semanalmente de pessoas interessadas em conhecer as
crianças do Vila Acalanto. No caso de festa relaciono o
nome do voluntário com o item que ele irá doar par que
não haja repetição.
Verifico se alguém precisará de carona, consulto os
voluntários que irão de carro se podem dar carona
também.
Um dia
antes, envio um e-mail para todos que confirmaram
presença e passo as informações: quantidade de
voluntários, quantidade de crianças, horário de visita
ao berçário, necessidades do orfanato, atividade que
será realizada no dia; Fotos? somente de voluntários.
Peço para que me liguem no caso de imprevistos. Envio
e-mails para as pessoas que irão de carona, passando
horário, e com quem irá.
Dessa
última vez recebi, no final do dia, mais um pedido de
carona, era o Gabriel que mora na Zona Leste mas, pela
primeira vez, não consegui atender, pois os carros já
estavam lotados.
Em
casa, pedi para minha mãe preparar hot dog de forno e
uma assadeira de cuscuz. Pronto, chega o grande dia, às
9:30 vou à cabeleireira "Puxa!!! ainda consegui tempinho
para salão de beleza rsrsr."
Fui
atenta ao celular, que poderia tocar a qualquer
momento. Às 11:00 recebo uma ligação da voluntária
Samira dizendo que sua amiga Camila, que iria dar-lhe
carona, passou mal e foi para o médico, mas que
gostaria muito de ir, e perguntou se ainda tinha carona.
Respondi que iria verificar, pois meu carro já estava
lotado. Tentei contatar a Rose, que iria levar algumas
pessoas, para saber se houve alguma desistência, mas não
atendeu.
Então
lembrei que iria pegar a voluntária Daniela no Extra da
marginal Pinheiros e liguei para a Rita passar lá para
dar-lhe carona.
Nesse
momento a cabeleireira me perguntou: Você quer que eu
desligue o secador? Respondi que não, pois estava
ouvindo bem e pensei: "Se ela ficar com secador
desligado até eu resolver isso, vou me atrasar, não, não
é melhor ela continuar".
Em
seguida recebi um torpedo da voluntária Célia,
informando que não poderia ir, ou seja, duas vagas,
apertadinhas, no meu carro. A Samira, que mora na Zona
Leste, liga para saber se eu havia conseguido. "Sim,
Samira pode ir para Vila Madalena. Samira: "Ai, nem
acredito! muito obrigada!". Pensei: "Se mais alguém
desistir até às 12:00 , aviso o Gabriel, que também
aguarda carona e mora na Zona Leste. Às 12:00 a Fernanda
me liga dizendo que estava saindo de casa. Às 12:30 a
Sandra me liga também dizendo que estava à caminho, às
12:40 a Daniela e às 13:00 a Fernanda dizendo que não
estava se sentindo-se bem, sem condições de sair de
casa. Mas não dava mais tempo de avisar o Gabriel.
Enfim,
chegamos todos bem, as crianças todas vestidas de
caipiras, nos esperando para mais uma "bagunça". Nem
sempre dá tempo para eu brincar, conversar, abraçar ou
beijar as crianças.
Vou
atrás de alguma coisa que o voluntário precisa para
servir o lanche, converso com a Irmã sobre as crianças,
o que estão precisando, se estão bem. É tudo muito
corrido, mas muito gratificante.
Quando
vejo o sorriso estampado no rosto dos voluntários, ao
pegar cada criança, correr, brincar, abraçar, beijar,
fico duplamente feliz, porque pude proporcionar um
momento marcante para ambos, o encontro entre crianças,
que estão ali por diversos motivos, e voluntários com
muita vontade.
Finalizamos a visita com a notícia de que os três irmãos
que abrigavam o orfanato há 5 anos, serão transferidos
para outra instituição, por conta da idade ser superior
a que o orfanato tem estrutura para atender.
A Irmã
que nos deu a notícia, quase não conseguia terminar,
não conteve as lágrimas, alguns voluntários também. Mas
aos poucos todos foram se acalmando, tentando aceitar e
se despedir do irmãos. "Crianças,se cuidem!" ; " " Tia,
eu gostei de lá, é diferente, você irá me visitar?".
Sabe,
muitos ficaram tristes com a notícia, mas eu fiquei
feliz por perceber que eles estavam felizes e aceitando
a decisão. Apesar de tudo as Irmãs e funcionárias já
vinham preparando eles para isso e devo admitir que
fizeram um ótimo trabalho.
Após a
visita fui ao encontro para preparação do lanche e
entrega dos cobertores, deixar a Sandra Luiza, ajudar um
pouco, conversar com os voluntários que não conhecia
pessoalmente, mas que sempre nos ajudam, como a Olívia,
que há muitos anos faz as sacolinhas de Natal com muito
carinho para as crianças.
Escutei
as orientações sobre a entrega do lanche e cobertores na
rua: "Peça licença, pois estamos entrando na casa
deles"; "Pergunte se ele quer um cobertor, um lanche";
"Pode deixar do lado"; "Precisamos definir um plano
B"; "Andem sempre em grupo"; "Troquem os números de
celulares"; "Precisamos de voluntários para encher as
garrafinhas de água". "Precisamos de voluntários para
tirar os cobertores dos sacos plásticos" .
Não fui
à entrega, então aproveitei para pegar as doações da
Sra. Elaine, que teve a sua casa incendiada e perdeu
tudo. Fomos informados sobre o caso por e-mail na
quarta-feira e alguns voluntários levaram as suas
doações. No domingo deixei as doações no local indicado.
Alguns
perguntam como arranjamos tempo para fazer tudo isso?
Mas como diz o Edu: "Ainda somos a minoria e tempo é
a gente quem faz". Já ouvi também: "Brenda, sou
deficiente, mas quero ajudar"; "Brenda, agora descobri
um sentido na minha vida"; "Brenda, meu pai não passa de
hoje, mas eu irei na festa de natal.". "Brenda, minha
mãe está internada, mas eu darei uma passada por lá".
"Brenda, perdi meu filho, mas já sou mãe de novo e em
breve estarei de volta ao trabalho". " Brenda, ela se
foi mas pediu para você continuar." "Brenda, gostaria
muito de ajudar, mas estou desempregada, não posso
contribuir com dinheiro, mas com a minha mão - de -
obra."
São
esses os maiores exemplos que tenho sobre o que é doar,
o que é ser um Beija-Flor. Solidariedade sem limites.
Problemas? que atire a primeira pedra quem não os tem.
Aprendi que eles fazem parte do nosso "kit de
sobrevivência", assim como as conquistas, momentos de
descontração e encontros com pessoas queridas.
Não sou
melhor do que ninguém, mas quando vejo essa cena de
voluntários que, as vezes estão passando por problemas e
/ou tem dificuldade para chegar ao local, trabalhando
com disposição e alegria, fica difícil não refletir
sobre o tamanho da minha responsabilidade enquanto
Beija-flor e logo penso: "Se tiver que fazer tudo de
novo eu faço, isso não tem preço."
Vejo o
grupo Beija-flor, ou melhor, Associação Amigo
Beija-flor, como uma escola. Não entramos sabendo como
fazer o trabalho voluntário, simplesmente aprendemos.
Aprendemos a organizar nossas idéias, a ter iniciativa,
plano A, plano B, plano C, Criar regras? regras no
voluntariado? isso pode, isso não pode? Sim, pois por
mais bonito que seja, por mais vontade que tenhamos, as
regras são para igualar as nossas diferenças e fazer com
que todos os voluntários tenham os mesmos direitos e
deveres.
Aprendemos a encarar as crianças carentes, os pacientes
do Hospital, o idoso no asilo, o morador de rua. Não
somos anjos, não somos perfeitos, falhamos, erramos,
discutimos, mas fazemos a diferença, pois o nosso
objetivo, de ajudar o próximo, de dar o nosso melhor,
deve ser superior a todas as nossas diferenças e
dificuldades.
Bem,
deixe-me finalizar porque senão vira livro, rrsrsrsr
Senti
necessidade de dividir esse outro lado com vocês que nos
acompanham pelo site, por e-mail e, quando possível,
pessoalmente. De qualquer forma, estão sempre vibrando
para que tudo dê certo.
Como
podem perceber somos todos iguais com o mesmo "kit de
sobrevivência (conquistas, perdas, problemas, amigos,
vaidade, diversão, trabalho, sucesso, alegrias,
tristezas, amor, mudanças)". Mas todos podemos fazer a
diferença, é isso que nos tornará melhores, amigos e
eternos aprendizes.
Fiquem
em paz!!!
TUDO
DEPENDE DE NÓS!
Brenda
L. Pinheiro
Clique aqui e leia
também o depoimento da Sandra Luiza
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