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Visita ao Vila Acalanto
Sempre que visito o Vila
Acalanto...Bom, enfim, não sei o que pensar, acabo
pensando sobre a vida,ainda não soube agradecer, ou
melhor, entender o que significa para mim ter conhecido
aquele lugar...
Um lugar que abriga
vidas,vidas que ninguém quis...O lugar daqueles que
foram deixados...apenas deixados...
Como pedaços de roupas
velhas...Pequenos seres que entram no refeitório em
filinha indiana de mãos dadas, que não vão dormir sem um
beijo, que pedem o carinho de um colo, que pedem um
conforto por simplesmente existir, seres tão nobres que
sequer procuram saber ou sequer sabem porque foram
deixados...
Seres que só tem um sorriso
para te dar, seres que...são o enigma mais sublime de
minha compreensão.
Quando olho naqueles olhos
sinto apenas um par de mistérios, pequenos enigmas
olhando para mim como pequenos livros na avidez de serem
lidos...
Cada criança ali é um livro
contando uma história...Uma história que queremos tanto
ler mas parece que de repente esquecemos como...E
descobrimos na regressão de tornarmo-nos crianças de
novo....
Brincando, nos pintando de
palhaços, sendo, acima de tudo, palhaços,já que não
podemos ser mágicos para mudar a situação a que estas
pequenas foi imposta. Mas um dia eu serei mágico e serei
o pai de uma delas, o eterno pai para uma vida inteira,
como dono de um pequeno tesouro que alguém não quis...
Depois perguntam porque eu me ajoelhei em frente a irmã
ali, o valor da vida não é qualquer coisa, eu me
desfaria como um rio para banhar aquele lugar.Talvez
seja isso os rios...Seres que se desfizeram para que seu
amor pudesse ser plenamente fluídico.
Quando vemos aquelas
crianças com suas consciências adultas nos deparamos com
o desabrochar de nossa represada consciência infantil.
Eles se vêem como pequenos adultinhos e nós como grandes
crianças. Nos pintamos de verdade para nós mesmos,
teatralizamos à nós mesmos, pois queima o anseio por ler
aquele livro de vida embutido num corpo e, de súbito, no
passar de uma bola, no pular de uma corda, no gesto de
se esconder, descobrimos como se ler...Sendo criança de
novo.
Aqueles que não foram queridos alguém quis...E que todos
queiram aqueles que alguém não quis...Que um dia
percebamos que precisam acabar as crianças abandonadas
para que voltemos a colocar almas no mundo, que um dia o
abandono seja passado...
Aqueles que não foram
queridos alguém quis, alguém acolheu, alguém bem acima
do martelo do juiz ou da foice do destino, servidoras
obreiras que vestem o véu de Maria submersas no oceânico
sangue de Jesus,que amam o que fazem e apenas isso
fazem.
Quando a Irmã Esmeralda
prepara as “excursões”para para ver os bebês e sobretudo
os recém-nascidos, entro num estado de respeito muito
grande, pois lembro de quando eu era um bebê e sei o que
eles estão sentindo, por incrível que pareça. Uma noite
minha mãe me colocou no berço para poder ver um filme
com a família, eu senti como ela “queria que eu
dormisse”, e como sentir isso fez-me sentir
...rejeitado...
E apenas por ela ir ver um
filme na sala...Eu sabia...Chorei, e ela voltou...Quando
aqueles bebês sentiram a rejeição no hospital e
choraram...Elas não voltaram....E eles sentiram, e isso
é algo que dói no coraçãozinho deles. Nossa inocência
faz o que pode, acarinha, coloca chupeta na boca, mas
atrás do choro infantil por si, próprio do bebê, há um
lamento maior, eles sentem os pais que não estão lá...e
precisam demasiadamente de nosso amor.
Meu tio pagou 20 mil reais em operações para sua
mulher,que era estéril, conseguir ter filhos biológicos
enquanto aqueles bebês já estão prontinhos
ali...Esperando que um amor os leve...como barquinhos em
cima de um rio,um rio de amor.
Todos os casais que procuram
filhos ali tem a benção de nosso amor, o amor dos
voluntários que mais do que tudo em suas próprias vidas
querem ver adoções chovendo tempestivamente, adoções
superando abandonos, amores superando tristezas...
Alguém que adentre aquela
Vila de Pequeninos Amores para colher uma vida para
si,alguém que entenda a encantadora perspicácia do
pequeno Anderson, a inteligência e alegria da pequena
Stephane, o sorriso bondoso do pequeno Tales, as
virtudes de cada pequeno e pequena e o pingo de ouro que
é cada um daqueles bebês...
Que alguém entenda...
É sempre nossa oração...
Que alguém entenda...
Gabriel D.C. de OLiveira
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