Edição Anual - 2009

Diretor Amigo Beija Flor - E-Mail: siteamigo@siteamigo.com   


AABF - Associação Amigo Beija Flor


Visita ao Vila Acalanto

Sempre que visito o Vila Acalanto...Bom, enfim, não sei o que pensar, acabo pensando sobre a vida,ainda não soube agradecer, ou melhor, entender o que significa para mim ter conhecido aquele lugar...

Um lugar que abriga vidas,vidas que ninguém quis...O lugar daqueles que foram deixados...apenas deixados...

Como pedaços de roupas velhas...Pequenos seres que entram no refeitório em filinha indiana de mãos dadas, que não vão dormir sem um beijo, que pedem o carinho de um colo, que pedem um conforto por simplesmente existir, seres tão nobres que sequer procuram saber ou sequer sabem porque foram deixados...

Seres que só tem um sorriso para te dar, seres que...são o enigma mais sublime de minha compreensão.

Quando olho naqueles olhos sinto apenas um par de mistérios, pequenos enigmas olhando para mim como pequenos livros na avidez de serem lidos...

Cada criança ali é um livro contando uma história...Uma história que queremos tanto ler mas parece que de repente esquecemos como...E descobrimos na regressão de tornarmo-nos crianças de novo....

Brincando, nos pintando de palhaços, sendo, acima de tudo, palhaços,já que não podemos ser mágicos para mudar a situação a que estas pequenas foi imposta. Mas um dia eu serei mágico e serei o pai de uma delas, o eterno pai para uma vida inteira, como dono de um pequeno tesouro que alguém não quis...

Depois perguntam porque eu me ajoelhei em frente a irmã ali, o valor da vida não é qualquer coisa, eu me desfaria como um rio para banhar aquele lugar.Talvez seja isso os rios...Seres que se desfizeram para que seu amor pudesse ser plenamente fluídico.

Quando vemos aquelas crianças com suas consciências adultas nos deparamos com o desabrochar de nossa represada consciência infantil. Eles se vêem como pequenos adultinhos e nós como grandes crianças. Nos pintamos de verdade para nós mesmos, teatralizamos à nós mesmos, pois queima o anseio por ler aquele livro de vida embutido num corpo e, de súbito, no passar de uma bola, no pular de uma corda, no gesto de se esconder, descobrimos como se ler...Sendo criança de novo.

Aqueles que não foram queridos alguém quis...E que todos queiram aqueles que alguém não quis...Que um dia percebamos que precisam acabar as crianças abandonadas para que voltemos a colocar almas no mundo, que um dia o abandono seja passado...

Aqueles que não foram queridos alguém quis, alguém acolheu, alguém bem acima do martelo do juiz ou da foice do destino, servidoras obreiras que vestem o véu de Maria submersas no oceânico sangue de Jesus,que amam o que fazem e apenas isso fazem.

Quando a Irmã Esmeralda prepara as “excursões”para para ver os bebês e sobretudo os recém-nascidos, entro num estado de respeito muito grande, pois lembro de quando eu era um bebê e sei o que eles estão sentindo, por incrível que pareça. Uma noite minha mãe me colocou no berço para poder ver um filme com a família, eu senti como ela “queria que eu dormisse”, e como sentir isso fez-me sentir ...rejeitado...

E apenas por ela ir ver um filme na sala...Eu sabia...Chorei, e ela voltou...Quando aqueles bebês sentiram a rejeição no hospital e choraram...Elas não voltaram....E eles sentiram, e isso é algo que dói no coraçãozinho deles. Nossa inocência faz o que pode, acarinha, coloca chupeta na boca, mas atrás do choro infantil por si, próprio do bebê, há um lamento maior, eles sentem os pais que não estão lá...e precisam demasiadamente de nosso amor.

Meu tio pagou 20 mil reais em operações para sua mulher,que era estéril, conseguir ter filhos biológicos enquanto aqueles bebês já estão prontinhos ali...Esperando que um amor os leve...como barquinhos em cima de um rio,um rio de amor.

Todos os casais que procuram filhos ali tem a benção de nosso amor, o amor dos voluntários que mais do que tudo em suas próprias vidas querem ver adoções chovendo tempestivamente, adoções superando abandonos, amores superando tristezas...

Alguém que adentre aquela Vila de Pequeninos Amores para colher uma vida para si,alguém que entenda a encantadora perspicácia do pequeno Anderson, a inteligência e alegria da pequena Stephane, o sorriso bondoso do pequeno Tales, as virtudes de cada pequeno e pequena e o pingo de ouro que é cada um daqueles bebês...

Que alguém entenda...

É sempre nossa oração...

Que alguém entenda...

Gabriel D.C. de OLiveira
 

>Retornar