Doutor Beija-Flor
Hospital São Paulo, num sábado de junho
de 2008
Vamos começar nosso plantão como Doutores Beija-Flores.
Reencontramos com alguns velhos "Doutores", conhecemos
novos voluntários no seu dia de estréia, subimos para
nos transformarmos em Doutores Palhaços .
Com as equipes formadas e prontas, fizemos nossa oração
e cada grupo seguiu para os andares designados. Nosso
grupo acabou sendo premiado com o andar das crianças.
Fácil, elas sorriem sempre quando nos vêem de longe,
elas acreditam nas fantasias da vida, acreditam em
Palhaços!
Fizemos sorrir e rir os
pequenos, os que estão com tubos pelo corpo todo, que
mesmo com dor nos transmitem pelo olhar a alegria. Penso
comigo que elas sempre estão de bem com a vida, mesmo
que tenham que passar por processos dolorosos no
Hospital.
As que estão nos bercinhos, levantam as mãozinhas com
tubos, com faixas, para apanhar nossas bolinhas de
sabão, outras crianças de tão manipuladas que são nem
sorriem mais, mas olham nossas fantasias e nos
acompanham com o olhar.
Outra nem quer tomar banho
na cama devido a fragilidade da doença, e daí as
enfermeiras nos chamam para convencê-la... Será que
vamos conseguir?
Bem, entramos com os narizes
tampados fingindo que ela estava mal cheirosa, demos uma
florzinha, fizemos bolinhas de sabão e é claro que ela
acabou tomando seu banho....voltamos depois para vê-la e
ela nos aguardava com um sorriso enorme.
Uma das nossas Doutoras é contadora de estórias, e em
alguns casos, ficava lá contando as estórias de fadas e
princesas, e as crianças nem piscavam .
Até uma Freira que estava
num quarto acompanhando uma indiazinha doente que havia
sido abandonada pela tribo, ficou comovida com a nossa
Doutora. Disse que nunca havia escutado uma estória tão
linda!
Muitas crianças são portadoras de paralisia cerebral não
mantém contato com o mundo, então nossa ordem é
brincarmos com as mães, " cobrarmos " os alugueis das
cadeiras duras que elas moram por meses, nos passando
por fiscais, e ainda deixarmos um rastro de fé e
esperança em dias melhores.
Uma hora, fomos mexer com
duas faxineiras que limpam o hospital e uma delas falou
assim: Entrem aqui . Levantou e tocou uma campanhia.....Ficamos
olhando uma para as outras.....Eps.... Psiquiatria!
Uau, por onde vamos começar? Quando começamos a pensar,
já nos empurraram para dentro .
Logo chega Sr. Raul sorrindo, feliz com os braços
abertos nos pedindo um abraço de urso ...Abraço de urso?
Não podemos, as
recomendações são de que não podemos abraçar os
pacientes para não levarmos infecção hospitalar? Para
nós naquele momento não pôde existir essa
regra...impossível resistir a um ser humano que só
queria um abraço!
Lá dentro conhecemos seres
humanos carentes de contato com a vida, carentes de
alegria, carentes de mãos dadas e abraços. Cantamos,
dançamos, vimos álbum de recordação da Silvana. Os
internos que estavam tristes chorando, pararam com tudo
e vinham brincar com a gente, com sorriso nos lábios, e
nos seguiam por onde íamos, pareciam crianças em dia de
festa!
Ficamos quase uma hora por
lá. Garanto que revolucionamos aquele setor.
Uma das nossas Doutoras,
brincou com o Sr. Raul de " Stop" pois ele é hiperativo,
e não parava um segundo e acreditem: Ele ficava
quietinho sem piscar os olhos! Até o enfermeiro chefe
nos agradeceu por esse aprendizado...disse que passaria
a usar quando necessário!
Bem quando olhamos no
relógio, era nossa hora de encerrarmos as visitas. Nosso
plantão havia terminado, que pena!
Obrigada Beija Flor por mais essa oportunidade de
podermos doar o que temos de melhor: o Amor!
Obrigada Pai, por confiar em nós!
Doutora Florzinha - Mariângela Malschitzky |