Introdução

A Arte de Doar de Si Mesmo

Muitas estórias começam com o clássico “Era uma vez...” e são repletas de emoções, experiências, alegrias, saudades, solidariedade e, principalmente, amor.

Nas próximas páginas, você irá vivenciar histórias incríveis iniciando com “Aconteceu uma vez...”, contendo momentos de descobertas e felicidade e, acima de tudo, terá a oportunidade de sentir um pouco da emoção de estar ajudando o próximo e de, automaticamente, se sentir ajudado.

Estas palavras podem parecer estranhas, mas é com este espírito que este livro foi elaborado.

O trabalho voluntário exerce sobre nós uma influência divina, sobretudo quando percebemos que somos capazes de experimentar a solidariedade no seu mais alto nível: a de dar sem ter que, obrigatoriamente, receber algo em troca. Mas, como a ciência propõe, toda ação, necessariamente, gera uma reação e assim, “dar” e “receber” estão intimamente ligados.

Apesar de aparentemente se mostrarem atos distintos, pode-se observar a cada história que o fato de prover algo a alguém proporciona uma reação imediata, que é a de receber de volta.

É exatamente neste momento que cada um de nós sente-se parte integrante de algo muito maior... Algo que explica e justifica
nossa existência neste globo repleto de tanto sofrimento.

Se a felicidade é algo raro neste mundo é porque deixamos de buscá-la na sua essência: simplicidade e amor são ingredientes da felicidade plena.

Foi em uma ocasião, entregando lanches em um domingo à noite, no centro de São Paulo, que constatei tais ingredientes de forma muito clara.

Estávamos ali, provendo o alimento físico para aqueles moradores de rua e, na minha visão, era um item que eles precisavam.

Talvez mais que a comida, a água era o bem mais procurado, pois nas ruas do centro não se acha uma torneira à disposição. Enfim, o trabalho acontecia normalmente até que algo muito interessante aconteceu: presenciei uma voluntária “doando de si mesma”. Improvisar no trabalho voluntário é algo fundamental. Foi uma cena que nunca irei esquecer e levo para o resto da minha vida como
aprendizado.

Na hora que ela estava oferecendo o lanche para aquela pessoa deitada em cima de restos de caixa de papelão, aconteceu a seguinte conversa:

– Obrigado, já estou alimentado... Irá fazer falta para outro colega mais adiante.

– Imagina... Não tem problema. Obrigada e boa noite.

– Antes de você sair posso te fazer um pedido?

– Claro!!! O que você precisa? (imaginando que o mesmo fosse pedir roupas ou até mesmo dinheiro).

– Me dá um sorriso? Ninguém hoje sorriu para mim...

No início, ela ficou sem graça.

Olhou para ele e abriu um sorriso espontâneo, daqueles que a gente fica feliz só de ver.

Ele a fitou por alguns segundos e agradeceu, abençoando-a e desejando uma boa noite.

Nenhuma só palavra foi pronunciada por longos minutos e o trabalho daquela noite continuou carregando dentro de mim uma felicidade imensa.

Foi umas das mais emocionantes cenas que já havia presenciado na minha vida e pude aprender ali que é possível doar algo que não se compra e não tem valor e, como disse no início, receber de volta algo intangível...

Boa leitura
Sérgio Camorcio

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